“Fujo da imagem de diva, de sex symbol, de pessoa que está no topo e é intocável”
Aos 30 anos, Rita Pereira faz um balanço do seu percurso e partilha ambições
Rita Pereira garante que ao longo dos anos, tem vindo a aprender a gerir melhor a sua imagem. Atualmente, concede apenas duas ou três produções por ano. Uma delas… é esta. A conversa com a atriz da TVI percorreu vários temas: Natal, infância, trabalho… E as saudades do cantor e ator Angélico Vieira, que morreu há um ano e meio.
Lux – Gosta do Natal?
Rita Pereira – Gosto muito, porque estou com a minha família e adoro oferecer presentes. É sempre uma altura em que tenho a oportunidade de ir para a aldeia comer os bolinhos feitos pela minha avó.
Lux – Os seus pais estão separados. Como é que gere isso?
R.P. – Passo o dia 24 com um e o 25 com outro. E vamos alternando ao longo dos anos. Da parte do meu pai, vamos para perto de Castelo Branco. Da parte da minha mãe, passamos na Graça, em Lisboa.
Lux – Foi fácil manter esse entusiasmo por esta época?
R.P. – Sim, porque nós somos os quatro muito unidos: eu, os meus pais e a minha irmã. É óbvio que o primeiro Natal após a separação foi um bocadinho estranho. Eu tinha 16 anos e a minha irmã tinha 10. Mas eles tiveram imenso cuidado relativamente a isso e nunca houve um choque grande.
Lux – Independentemente de ter de se dividir, passa sempre esta quadra com a sua irmã?
R.P. – Sempre. Somos inseparáveis. E é a ela que gosto mais de oferecer presentes. E dou-lhe sempre presentes personalizados.
Lux – E entram em competição?
R.P. – Acerca do número de presentes? Sim. Ela, como tem imenso jeito para trabalhos manuais, oferece-me coisas maravilhosas. Mas adoro oferecer a todos. No ano passado, dei ao meu pai um salto de queda livre. E já o fizemos os dois. Foi ótimo!
Lux – Ele é o mais aventureiro?
R.P. – Ele é o criativo, porque é professor de artes e pintor. A minha mãe é mais aventureira. Vai todos os anos a concertos, festivais… E sai à noite comigo. Depois perguntam-lhe se é minha irmã e ela fica toda contente. Os meus amigos habituaram-se a conviver com eles. O meu pai é que ia sempre buscar-nos à discoteca. Deram-nos muita liberdade, desde que nos portássemos de forma responsável.
Lux – Pela maneira como fala parecem ser todos muito divertidos. Imagino-a como o bobo da corte lá em casa…
R.P. – Completamente. Sou sempre a palhaça [risos]. Mas até as minhas avós entram nas brincadeiras.
Lux – Sempre conviveu muito com elas?
R.P. – Muito. Passava metade do verão com uma e outra metade com a outra. Em Castelo Branco, lembro-me de que o meu avô pendurava cordas enormes nas árvores para nos lançarmos para uma lagoa que lá havia. E quando ia para o Algarve com a minha avó materna, lembro-me de que ela sempre gostou muito de se bronzear, então, apanhei essa mania com ela. Todos os verões tinha bronzeadores novos [risos].
Lux – Já disse que envolve sempre a família nas suas decisões…
R.P. – Desde o vestido que vou usar nos Emmy até a questões de contratos, falo sempre com os meus pais e com a minha irmã. Costumo dizer que são três públicos diferentes. E são muito diretos.
Lux – E a Rita, é muito direta?
R.P. – Sim. As pessoas sabem o que esperar de mim. Hoje em dia, sou uma pessoa muito mais desconfiadas, também pela minha profissão.
Lux – Mas diz tudo o que pensa?
R.P. – Hoje contenho-me muito mais. Antes, achava que era uma menina rebelde que podia dizer tudo o que me vinha à cabeça. Mas tenho o coração na boca, e as pessoas sabem que se eu não gostar, vou dizer que não gosto.
Lux – Era muito refilona?
R.P. – Era muito teimosa. Nunca aceitei um não porque não. Os professores diziam que eu era muito insolente. Eu perguntava o que era ser insolente. E eles diziam que eu conseguia responder-lhes, sem ser mal-educada e sem poderem mandar-me para a rua. Mas irritava-os [gargalhada].
Lux – A sua irmã já não parece ser assim…
R.P. – Nada. Se bem que é muito faladora. É muito inteligente, com os pés bem assentes na terra. Tem 24 anos e já está a dar aulas, pelo segundo ano, ao primeiro ciclo.
Lux – Fala dela com orgulho.
R.P. – Admiro-a imenso, porque ela nunca quis aparecer e ser conhecida como a irmã da Rita Pereira. Isso mostra personalidade. E é a pessoa que melhor me conhece, até melhor do que os meus pais.
Lux – Ela terá sido um dos seus pilares, na altura em que sentia ter passado de bestial a besta?
R.P. – Isso foi naquela altura do [fim do namoro com o] Angélico. A imprensa adorava-me e, de repente… Mas já passou.
Lux – Conseguiu ultrapassar isso?
R.P. – Sim… Ao longo dos anos fui aprendendo a lidar com isso de outra maneira, a perceber que faz parte da profissão que escolhi.
Lux – Essa postura tem a ver com a maturidade, com o facto de já ter 30 anos?
R.P. – Sem dúvida alguma que tem a ver com a maturidade e com objetivos e prioridades, acima de tudo.
Lux – Quais foram as principais evoluções?
R.P. – Sempre fui uma pessoa com objetivos muito definidos e acho que continuo assim, mas tornei-me mais certa daquilo que quero. Há uns anos, andava um bocado perdida, quanto ao que queria realmente fazer, ou sobre quando é que queria construir uma família…
Lux – Pensava muito nisso?
R.P. – Ah, sim. Desde pequena que quero ser mãe. Porque a minha família sempre foi muito importante para mim…
Lux – Às vezes, o efeito é contrário. Há filhos de pais separados cujo sonho de família fica destruído.
R.P. – Mas isso são filhos que depois da separação não são acompanhados da melhor maneira. Acho que se os pais continuarem a dar-lhes o mesmo amor, os filhos acabam por não sentir isso.
Lux – Voltando a si. Quer uma família grande?
R.P. – Uns três filhos. E sempre quis ter mais irmãos.
Lux – Estava a dizer que já não vive tão angustiada com isso. Não devia ser ao contrário?
R.P. – Não. Com 30 sinto-me igual a quando tinha 25 anos. Encaro as coisas de forma mais natural. Vejo pela Margarida Marinho, que foi mãe aos 42, e tem uma excelente relação com a filha. Não há uma idade para se ser mãe.
Lux – Está a gravar a nova novela da TVI, “De Mulher para Mulher”. Quem é a personagem que via interpretar?
R.P. – A Fernanda, uma mecânica que vive num bairro. É uma mulher-furacão, que faz parte do núcleo cómico.
Lux - Tem sido difícil dar-lhe vida?
R.P. – Ela conduz um reboque. Tive aulas para aprender a colocar o carro em cima do reboque – é extremamente difícil – e também tive aulas de condução defensiva, porque, à noite, ela faz street racing. É muito interessante!
Lux – Já protagonizou quatro novelas…
R.P. – Acho que seis, mas deixe-me contar: ‘Doce Fugitiva’, ‘Feitiço de Amor’, ‘Meu Amor’, ‘Remédio Santo’ e esta, cinco.
Lux – Certo. Portanto, feito este percurso, pensa: ‘E agora?’
R.P. – Penso muito, sim. Quero fazer teatro outra vez, ou, se calhar, tentar alguma coisa lá fora.
Lux – Já está a trabalhar para que isso aconteça?
R.P. – Não… É um pensar de querer pôr em prática. Eu estava a meio de “Remédio Santo” e o [António] Barreira já estava a falar-me desta personagem. Portanto, não valeria a pena começar outra coisa. Até porque o teatro, por exemplo, rouba-nos muito tempo e eu não quero tentar conciliar tudo, como já fiz uma vez.
Lux – Acumular teatro e televisão não funciona?
R.P. – Ai não, não. Não é que tenha prejudicado o meu trabalho, mas fisicamente estava completamente desgastada [aquando do musical 'Os Produtores']. Emagreci imenso, porque nem sequer tinha tempo para comer.
Lux – Esse foi também aquele período complicado a nível pessoal…
R.P. – Sim, também teve esse lado pessoal. [silêncio]
Lux – Foi a altura em que terminou o namoro com o Angélico. Já passou um ano e meio desde a sua morte. Consegue aceitar melhor essa realidade?
R.P. – Não. Não. [Faz uma pausa]
Lux – Ele ainda está muito presente?
R.P. – Eu não gosto de falar sobre isso. Mas não, não aceito.
Lux – Como é que tenta combater essa revolta? Imagino que será uma revolta…
R.P. – Sim, é. Tento dar muito mais valor à vida, e aproveitar por mim e por ele.
Lux – Pensa nele todos os dias?
R.P. – Não vou responder a isso.
Lux – Então pergunto de outra forma: sempre teve uma ligação muito forte com a mãe dele…
R.P. – [Interrompe] Com a mãe e com ele. Ao contrário do que foi dito, nunca deixámos de nós falar, sempre fomos amigos. Em relação à mãe, estou com ela todas as semanas.
Lux – Sente que ela precisa desse apoio?
R.P. – Precisa.
Lux – E a si? Reconforta-a poder acompanhá-la nesta fase?
R.P. – Claro que sim. Mas não gosto muito de falar sobre isso, como disse.
Lux – Muito bem. Termino por perguntar sobre as polémicas com Anita Costa [namorada de Angélico na altura da sua morte]. Havia algum fundo de verdade no que foi dito?
R.P. – Não vou alimentar isso.
Lux – Está em paz com a sua consciência?
R.P. – Completamente. A única coisa que posso dizer é que é mentira que eu e a Anita nos dêmos mal. Falamo-nos tranquilamente, queremos a felicidade uma da outra e sabemos que ambas partilhamos o mesmo sofrimento.
Lux – Ainda que a abordagem destes assuntos a incomode, tem noção de que as pessoas gostam de saber sobre a sua vida?
R.P. – Claro que sim, compreendo perfeitamente. Mas acho que, muitas vezes, não é o público que quer ver certas coisas. As pessoas querem ver-me feliz. Hoje em dia, com a minha experiência, aprendi muito. Por exemplo, sei exatamente aquilo que vai colocar como título do que eu disser. Portanto, controlo muito bem tudo o que digo.
Lux – Mas fala com um ar muito descontraído.
R.P. – Sim, já me habituei. Também já são dez anos. Por exemplo, fiz agora o videoclip do Mickael Carreira. Mas tive de me mentalizar de que não ia importar-me com a polémica à volta do possível romance entre nós. Tenho de optar: ou faço um trabalho que vai ficar com qualidade e é bom para o meu currículo, ou simplesmente não o faço porque não quero passar por polémicas. Optei pela primeira, e fiquei muito feliz, porque acho que resultou num trabalho fantástico.
Lux – Ainda sobre relações pessoais. Desde o Miguel Mouzinho que nunca mais assumiu nenhum namorado. Está sozinha?
R.P. – Não vou comentar.
Lux – Não estou a pedir que comente, estou a fazer-lhe uma pergunta direta. Tem alguém? Falou-se no António Conde, dos Expensive Soul, no Nani…
R.P. – Sim, sim. Nani, Paulo Rocha, Ronaldo… Enfim. Não respondo.
Lux – É vista por parte do público como um sex symbol. Gosta que tenham essa imagem de si?
R.P. – Não é uma imagem que puxo. Vê-se a diferença entre a minha [sessão fotográfica para a] Playboy e as outras. Nas novelas, recuso-me a fazer cenas em soutien e cuecas. Nas produções não faço boquinhas, olhinhos, nem uso decotes até ao joelho… Se sou sensual ou não, é uma coisa natural.
Lux – Para se ter essa imagem não é preciso estar-se de soutien e cuecas…
R.P. – Sim, mas é impensável para muitas atrizes sair à rua sem maquilhagem, pôr fotos no Facebook despenteadas… E podem ver dezenas de fotos minhas sem maquilhagem, descontraída. Eu fujo da imagem da diva, de sex symbol, da pessoa que está no topo e é intocável.
Lux – Todavia, essas características até podem trazer mais trabalho, como o convite da Playboy. É sinal de que o público gosta de a ver assim.
R.P. – É sinal de que querem ver-me assim, porque nunca me viram assim. Se calhar, há pessoas mais bonitas do que eu que não foram convidadas porque já apareceram muitas vezes despidas ou de soutien e cuecas.
Fonte: rita-pereira.org/Lux